sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A realeza do sentimento acontece longe dos olhos alheios.

Pense por um minuto e me responda: qual o seu padrão de romantismo? Busque referências pessoais, literárias, cinematográficas e tente me traçar o que você considera um ato, um gesto ou um momento romântico. Mas reflita mesmo, baseie-se nas suas relações passadas, na atual, nos seus momentos reais. Vai, pare de preguiça, feche os olhos e virá algo na cabeça e no peito… mais fácil do que imagina. Pode ser algo que tenha feito, mas prefiro que pense em algo que fizeram por e para você.

Agora que pensou, o que sentiu? Pois é. O que é romantismo? Como definir um gesto como algo romântico? Como viver um romance sem cair na pieguice projetada ou na cobrança unilateral ou na ação não-exercida?

E confesso que me vejo em um padrão diferente do propagado e esperado pelo mundo, ainda mais em tempos de redes sociais onde tudo é registrado e esfregado em nossas caras. Não gosto de usar o termo “romantismo de antigamente” porque parece que é algo que não se usa mais, que ficou para trás, que está defasado e fora de uso. Mas para mim não.

Sim, acredito que o romantismo seja ensinado e repassado, especialmente pela mãe. A mãe tem o poder de criar verdadeiros homens e mulheres, com caráter e com romantismo nato. Eu mesmo aprendi a ser um com a minha mãe e nunca o romantismo esteve longe da pauta. Pelo contrário: ela cobrava de mim posturas que eu esperava que tivessem com ela e comigo. E não há nada mais gostoso do que saber que estamos sendo bem cortejadas e bem cuidadas. No dia a dia, nas pequenas coisas, longe dos holofotes da opinião alheia.

Mas muitos hoje criticam isso. Há quem ache ridículo homem comprar absorvente e anticoncepcional da mulher ou carregar sua bolsa enquanto caminhamos com aquele sapato lindo – mas péssimo para andar e se equilibrar – por uma calçada irregular ou quando vai ao banheiro de uma festa ou de um shopping. Criticam de uma forma até repreensiva, de apontar o dedo para os que fazem, como se fizessem para se mostrar e aparecer.

- Ah, faz isso só porque tem gente vendo…

De fato, há muito disso. Muito mesmo! Mas aqueles que praticam os atos-clichê do romantismo o fazem para se mostrar aos que os cercam, como se demarcasse território, o famoso mostrar que aquela terra tem dono. Socialmente lindos, intimamente quebrados.

Quantos casais trocam juras e carícias e declarações e fotos e vídeos publicamente, mas ao entrarem no carro tudo muda? Não se olham, não se tocam e não se sentem sem que haja uma plateia para ver que o amor deles é raro, é único e digno de inveja? É entrar no ambiente lotado e as mãos se unem… mas ao saírem do ambiente, os dedos se desentrelaçam.

Nossa, eu conheço vários!

Parece que para alguns é preciso que os outros sintam inveja para que o romance seja sentido em sua plenitude. É preciso o olhar dos outros e não apenas o olhar do outro que ladeia.

Mas fazer isso é fácil. Gravar vídeos com longas declarações, pedidos de casamento em praças de alimentação em shoppings lotados ou escrever juras de amor eterno nas redes sociais ou jogar toneladas de pétalas de rosa é das coisas mais fáceis que conheço. Porque sabem que isso será visto como uma prova de amor, que aquilo é real e digno de inveja… mas não é.

A realeza do sentimento acontece longe dos olhos alheios.

É a troca no silêncio, é a palavra não dita; é um abrir a porta do carro ou de um ambiente; descer a escada na frente e subi-la atrás, para que ela sinta segurança; puxar uma cadeira, empurrar o carrinho e carregar as compras do mercado; deixá-la e fazê-la andar do lado de dentro da calçada; calibrar e\ou trocar o pneu do carro; lembrar do seu anticoncepcional ou do absorvente e comprá-lo na farmácia caso ela comente que estão acabando; trazer um bombom no final do dia; lembrar de conversas aparentemente sem sentido; apreciá-la no banho , quando se vesti; trazer um copo de água ao se levantar; tirar sua camisa ou casaco e cobri-la quando ao relento da noite ou na neblina do dia; fazer uma massagem nos pés enquanto dialogam sobre qualquer coisa às duas da manhã; ver um filme e fazer uma pipoca; permitir que ela seja ela e assim se apaixonar ao vê-la livre da repreensão dos seus conceitos… tudo isso é romantismo para mim!

É zelar pelo bem estar do parceiro com pequenos gestos que fazem diferença, sem cobrar os mesmos gestos de volta, sem usá-los como moeda de troca ou botá-los em um altar como troféus dignos de serem memorados. Aquele que faz algo esperando ter o mesmo em troca está perdendo o principio vital do romance: querer ver o outro bem pelo simples fato de que assim você também estará bem. É querer fazer de tudo apenas para receber um olhar satisfeito e um sorriso agradecido de volta. Não há nada mais recompensador do que tirar um sorriso fácil daquele rosto que você acha lindo.

Mesmo na parte social do romance é possível fazê-lo sem que haja essa máscara da demarcação de território: conversar naturalmente nas redes sociais sem se preocupar que estejam lendo e vendo e sorrir ao receber um “bom dia”; trocar um simples olhar em meio a uma festa; acariciar a nuca ou ceder o braço ao caminharem; tocar o joelho e segurar a mão ao dirigir;

É estar entre várias pessoas e, ainda assim, parecer que todas desaparecem ao vê-lo sorrindo em suas companhias. É saber que ele pode se divertir com outras pessoas que não sejam você e gostar da risada dele mesmo que esta não seja causada por você. É fazer por ele e não pelo ambiente. Fodam-se os outros: o que importa é vê-lo bem, confortável. Com ou sem holofotes, ele saberá a intenção do gesto e sentirá que foi honesto, sem segunda intenção ou sem pretensão de ser algo que não se é.

Há sempre a parte piegas e brega do romântico: mandar letras melosas, escrever textos intermináveis e repetitivos, dedicar poemas e frases. Mas que isso possa e deva ser feito entre ambos mesmo que sob a luz da sociedade ou sob a penumbra do quarto à sós: os envolvidos sentirão o efeito, nãos os que vêem. Você faz porque simplesmente não cabe em você e não porque quer que outros vejam. Percebe a diferença?

- Ah, tá: falou a garota que escreve poemas intermináveis e textos enormes para a pessoa amada, que posta músicas e declarações para que o mundo veja e leia e saiba que ela o ama e que sente saudade e que está carente e… Ah, larga a mão de ser hipócrita e demagoga, Deise! Só escreveu esse texto imenso só pra aparecer e ganhar suspiros das idiotas que te lêem.

É… eu sei que alguém vai dizer isso ao terminar de ler. Apenas se lembre de que, talvez, exista alguém esperando uma mensagem sua e que você não mandou porque somente ela iria ler.

E nem precisa ser um “eu te amo”, não: aprendi que há muito romantismo em um zeloso “vai tomar banho” ou em um singelo “como você é besta”…

Eu estou bem feliz com o romântico que encontrei! Que me leva para ver o por do sol com mini-espumante para comemorar um novo contrato, que me diz q tem dificuldade para dormir se estou longe e isso não precisa ser estampado na minha time-line, simplesmente pq ficou grvado dentro da minha memória e da nossa história!

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