quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

E não deu porque minha paixão não tem saco para burocratização.

Calma lá, meu amigo. Quem você pensa que é para se achar no direito de ditar o ritmo da minha loucura e da minha paixão? Sinto lhe informar mas nem eu, munida dessa liberdade inescrupulosa de lhe beijar sem lhe pensar, fui capaz de controlar o momento em que o calor se converteu em paixão. Não sei em que planeta você viveu até hoje e se com você normalmente acontece diferente mas por aqui costuma ser assim mesmo. De supetão.
Eu adoraria saber seu ascendente previamente. Gostaria de saber se você é de aquário e já preparar o coração para a decepção. Gostaria de saber se você já fez um mapa astral. Se acredita em numerologia. Se tem uma religião. Eu gostaria de saber se você prefere café ou nespresso. Se dorme de lado ou de bruços. Se é notívago ou diurno. Se é ‪#‎baconlover‬ou ‪#‎semglútensemlactose‬.
Eu gostaria de ter feito planilhas e calculado nosso mínimo múltiplo comum. Gostaria de ter comprado algumas roupas novas ou pelo menos um sutiã menos surrado. Acredite: eu também gostaria de ter esperado. Mas não deu. E não deu porque minha paixão não tem saco para burocratização. É isso 
Não estou dizendo que te amo, não me venha com pretensão. Estou dizendo que eu quero viver essa paixão religiosamente. Sem nenhuma precaução. Já vivi algumas dúzias de paixões. Às vezes dói, mas passa rápido. É bem gostoso. Não se preocupe não.
Eu não tenho culpa dos seus traumas. Meus defeitos são todos outros. Não vou esperar você percebê-los para decidir se pretende se entregar ou não. Eu quero viver essa paixão agora. Acho lindo todo esse lengalenga de ponderação mas eu só sinto; não vou com calma. Comigo normalmente é assim mesmo: ou sinto muito ou sinto muito mas eu não sinto nada não.

domingo, 9 de agosto de 2015

Eu tenho medo de pessoas feridas


Um dos meus maiores medos em termos de relacionamento é encontrar alguém machucado. Não que eu seja egoísta e queira alguém novinho em folha, sem marcas e sem buraco no peito. Nada, isso é normal, todo mundo carrega alguma ferida, todo mundo tem passado, todo mundo tem marcas. Isso é importante pra desenvolver o histórico afetivo e emocional de cada um. Meu problema se situa no panorama que eu vejo hoje: tem muita gente saindo de vez do campo de batalha.
A gente tem se machucado tanto que a possibilidade de um novo amor assusta. E tem gente que não vai me deixar chegar perto porque não confia em mais ninguém. Gente que já passou por tanta coisa que não aguenta mais retalhar o coração, que vai me afastar involuntariamente porque chega, por favor, ela não precisa mais chorar. E como eu fico? Como a gente fica no meio de tanta gente machucada que não consegue mais se doar?
Quanto mais converso e observo as pessoas, mais percebo que a gente tem desenvolvido uma medo genuíno relacionado a deixar que novas pessoas cheguem perto da gente. Quebra e cola, quebra e junta tudo no chão, quebra e chora, sente uma dor latente que parece clichê, e talvez seja, mas que é real. E qual clichê não é real, não é mesmo? Machucados fazem parte da gente. Só que essa gente tem desistido, largado tudo no meio do caminho, abandonado a luta amorosa e aquele famoso “um dia”, que talvez não chegue mais por decisão nossa.
Meu medo é o de chegar pra dizer que tô aqui e tô disposta, que eu vou devagar, não tenho pressa, quero deixar o amor engatinhar pra ver se você acredita em mim, e ter tudo negado. Com um olhar baixo e os braços cruzados em defesa, ouvir de alguém que “desculpa, meu bem, não foi você, foram as outras e eu não consigo mais”. Porque, meu bem, acredite você ou não, não depende muito da gente. Tem pessoas que passam por muita coisa, muito além da montanha-russa, histórias que a gente nem imagina como fizeram mal, como magoaram e como podem causar dor. E por mais que eu queira, por mais que você queira, talvez aquela pessoa da sua vida não esteja preparada pra você – ou não esteja preparada nunca mais. Pode ser que ela não te deixe chegar perto de tão desacreditada que está, e isso não é culpa de ninguém.
Eu posso imaginar a dor e tudo mais. Posso imaginar como é ruim pra quem a gente gosta e como esse processo de recuperação é difícil. Tem gente que nunca se cura de um coração definitivamente partido porque, bem, não foi só dessa vez, agora foi só o estopim. Você consegue ver o lado do outro e dizer que vai ficar tudo bem? Não tem como prometer isso, mas a tentativa é válida se for sincera, se você realmente quiser cuidar de alguém. A gente luta por dois, levanta escudo pra ver se o outro baixa, vai junto e promete o cessar fogo assim que as coisas estiverem bem. Mas não tem jeito e a gente sofre com a possibilidade de ser repelido porque ali não cabe mais nada a não ser dor.
Daí começa o efeito dominó: enquanto um repele por não aguentar mais, o repelido talvez se canse de tentar depois de tanta estrada e tanto choro. Depois da esperança plantada e retirada à força por alguém com medo, aquele amor todo pode despedaçar e dar lugar ao isolamento. Fabricamos, assim, mais corações pesados, receosos, despedaçados e guardados num baú. Pensando melhor, meu maior medo talvez não seja encontrar alguém assim e não poder fazer nada pra ajudar. O medo mesmo é me tornar alguém assim, cuja ferida nunca cicatriza, cujo coração pertence a um clube vazio que se esqueceu de apagar as luzes quando o último saiu

domingo, 28 de junho de 2015

Só temos uma vida. E o que você faz da sua?


O preço do conforto é ser pequeno – Barão de Mauá quem é que não gosta de um bom sofá. Sabe? Um sofá grande, confortável. Um sofá fofo, macio, quentinho nestes dias frios de  São Leo? Que tal? E se, além do sofá, colocarmos uma pipoquinha? Ai, que delícia, uma pipoquinha bem quentinha, com manteiga?

Quem é que não quer? Pois é, todos nós sabemos o que é o conforto. Todos nós sabemos o que nos faz ficar confortáveis e o que nos faz ficar desconfortáveis. Muitas vezes, se sentir desconfortável com alguma coisa é pior até do que ter dor. É pior do que uma série de situações ruins, porque, ai, sei lá, incomoda uma coisa dentro da gente que a gente não sabe o que é.

O desconforto é, de fato, extremamente desconfortável. E aí você olha para a sua vida. Seu pequeno sofá de vida, aquela zona de segurança onde você se encontra. Uma família, um relacionamento, um emprego, não sei. Aquela coisa que há tempos não é boa, mas é confortável.

Aquela vida, vidinha, que faz com que você sinta que merece uma caixa de cerveja no fim de cada dia. Que faz você pensar que não tem problema arrumar só uma paquerinha fora do casamento. Aqueles pequenos pecados que, de tão pequenos, passam despercebidos. Aquela tentativa da alma e do espírito em mostra que não, as coisas não estão boas. Mas estão confortáveis. E por confortáveis eu digo, você conhece.

Você não precisa pensar muito, você já sabe como lidar. Pensa, se eu ficar bem quietinho e não responder, não arrumo confusão com meu marido. Eu odeio fazer isso, mas, pelo menos, eu não preciso pensar que meu casamento acabou faz tempo. Ou, se eu fizer meu trabalho aqui na empresa médio, ninguém me mandar embora e eu não preciso parar e pensar porque eu queria ser agricultor e agora sou escriturário. E odeio. Mas pago as contas, com dificuldade, não estou passando fome. Ai que lindo! Fique até comovida agora.

A frase o bom é inimigo do ótimo é extremamente verdadeira. E quer dizer isso mesmo que, muitas vezes, não queremos sair da nossa zona de conforto. Ah, os amigos são pessoas ótimas, mas ir até lá? Poxa, a fulana mora tão longe, tão distante! Não seria melhor ficar aqui, pedir uma pizza? Vou ter que me arrumar pra ir pra festa? Ah, mas eu não tenho um sapato. Vou ficar em casa. E a vida passando lá fora. E a vida correndo, até o dia em que você olha no espelho e pensa: quem é essa senhora? O que ela fez da vida? Ela se divertiu? Ela dormiu pelada só pra refrescar, nadou num rio que não conhecia a água?

Ela tomou pelo menos um porre? Ela dançou agarradinha até às cinco da manhã? Ela curtiu os filhos crescendo, os levou ao parque para se sujar na lama? Ela se sujou de vida? Ou ela ficou bem. Confortável, acompanhada de uma TV a cabo eu um cálice de vinho barato (porque, né, não deu pra comprar um melhorzinho). O que diabos você quer da sua vida? Outro dia eu ouvi a expressão: preguiça de viver.

A preguiça de viver é a irmã caçula da depressão. Você vai tendo preguiça de fazer as coisas. Preguiça de vencer seus medos, preguiça de tentar. E um dia você está tão instalado na sua zona de conforto que nem sabe mais quem você é. E espero que, lendo este texto, talvez você identifique isso em uma ou duas áreas da sua vida. E pense que o tempo está passando e precisamos só ir em frente. Com medo ou não. Com preguiça ou não. Precisamos buscar a nossa força, lá dentro e ir atrás do que queremos.

Porque somos muito, muito maiores do que imaginamos. Temos muito mais talentos que nos fizeram acreditar nossos pais e professores. Somos enormes, gigantes e perfeitos! Aos olhos do Universo. Aos olhos da criação divina! Então aproveite os seus potenciais, sejam eles para o que forem. Um trabalho, um hobbie, um novo relacionamento?

Afinal de contas, do que você precisa?