terça-feira, 22 de novembro de 2011

O tabu


Eu realmente temi expor minha opinião sincera sobre o assunto, mas lá vai:
Aborto por si só, é um assunto espinhoso e quando entra no assunto religião e ética, a coisa fica ainda mais nebulosa. Quero falar não do aborto espontâneo, aonde a natureza faz sua seleção natural, mas sim do aborto provocado, mais precisamente da legalização do procedimento. Eu não tenho a intenção de fazer apologia ao aborto e nem defender ou julgar quem faz ou deixa de fazer, apenas pretendo expressar minhas impressões sobre o assunto, nem certas e nem erradas, apenas minhas.
Primeiramente, não vou entrar no mérito de métodos contraceptivos, que se usados de forma correta, realmente são eficazes; ou fazer analogias grosseiras e baixas do tipo: -Na hora de fazer não pensou. Estou partindo do ponto em que a gravidez indesejada não é mais hipótese e sim fato consumado. Acho que a decisão de interromper uma gravidez não deve ser decisão fácil para nenhuma mulher, não creio que seja o primeiro impulso, já testemunhei amigas ( no plural mesmo) que decidiram por N motivos fazer um aborto ilegal.
Agora, o que para alguns pode causar polêmica: EU SOU A FAVOR DA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO.

Sim, sou a favor da legalização, mas isso não quer dizer que sou a favor do aborto. São coisas distintas: O fato de ser ilegal, não impede que, segundo ministério da saúde, ocorram de 729 mil e 1,25 milhão de abortos ao ano no país, embora essa estimativa seja altamente especulativa, pois os abortos são clandestinos, O que se vê é mais uma vez a distorção de realidades entre classes sociais, quem pode paga um profissional e sai caminhando como se nada e nem ninguém houvesse existido, enquanto quem não pode pagar se submete a verdadeiros açougueiros e por diversas vezes acabam tendo além da vida do filho a sua própria ceifada, e essas mesmas, quando conseguem socorro a tempo, são tratadas novamente com descaso, como pacientes de segundo escalão, como não merecedoras de um serviço ao menos digno.
Repito, a decisão de fazer um aborto não deve ser fácil. Isso vai contra tudo o que nós, mulheres, somos “programadas” desde a mais tenra infância a desenvolvermos nosso instinto materno, aprendemos que maternidade é um dom, que é um amor sublime. E é mesmo! Mas, mesmo assim, trazer filhos no mundo é uma grande responsabilidade e que, a bem da verdade, só tomamos consciência quando eles já nasceram.
Não quero que entendam que filhos são fardos, mas são responsabilidade e a maior que se pode ter. Você tem um ser humano em branco nas mãos, e tem o dever de fazer dele uma pessoa do bem, educá-lo , ensiná-lo a ter ética , a reconhecer o que é bom e mau, a respeitar os demais. Por isso num mundo ideal, filhos seriam sempre planejados, sempre viriam no momento certo e com convite, mas a realidade é bem diferente e embora na maioria das vezes a “surpresa” seja recebida com muito amor e alegria por seus pais, a uma parcela enorme de homens e mulheres que não tem condições emocionais e psíquicas de serem responsáveis por si, quanto mais por terceiros.
E meu bem, seguramente aquele filho indesejado deles, que será criado por amigos e vizinhos , num lar desregulado e aonde amor é conceito abstrato, ele é um possível candidato a dar um tiro na cabeça de seu filho e alegar na frente de uma câmera de TV que ele é assim por culpa do sistema, por culpa da família e bla bla bla. E em parte ele tem razão. Não, aborto não é a resposta para acabar com a violência, mas países em que o aborto é legalizado, aonde existe a política pública de planejamento familiar, os índices de criminalidades são infinitamente menores.
É confortável e facílimo julgar quando se está fora da situação. Volto a repetir, filhos são nossas responsabilidades e serão para sempre, mesmo que sejam adultos e independentes, e por compreender isso, realmente não sei se desejo ter outro filho ( talvez fale sobre isso em outra oportunidade). Uma mãe deve ser capaz de dar a vida por um filho, eu faria isso pela Alícia, mas amar também pode ser dizer adeus, é ter consciência que trazer uma inocente para não poder dar tudo que ele merece é crueldade, é evitar colocar alguém no mundo para não ter nenhuma expectativa além da miséria.
Sobre dar a vida por um filho, lembro de um caso de alguém próximo, em que a mulher, já mãe de duas meninas, de 10 e 5 anos, casa-se pela segunda vez e dessa relação linda , surge uma outra vida: tudo lindo, tudo perfeito...Até que no segundo mês de gestação, se descobre um câncer no cérebro da mãe A doença estava em estado avançado, mas ainda tratável, porém , como em todo melodrama, para salvar nossa heroína ela precisa abrir mão do bebê que espera. Ela decide levar a gestação até o fim, mesmo correndo todos os riscos. Finalmente aos 7 meses e meio de gestação ela começa a convulsionar , entra em coma e morre durante a cesárea. Que lindo!!! Que exemplo de mãe!!! Deu a vida pela filha !! Que altruísmo!!
Não! Isso é prova do mais puro egoísmo, o bebê gestado era mais merecedor de uma prova de amor que as outras? Como ficam as filhas mais velhas que viram a mãe morrer voluntariamente? Quem vai estar com elas , inclusive a menor, quando menstruarem pela primeira vez? Quando o primeiro rapaz destruir seu coração?
Quando decidimos ter filhos, devemos abrir mão do que e de quem somos para dar-lhes a chance de serem seres humanos melhores que nós, sendo assim, se não podemos ou não queremos assumir essa responsabilidade, então melhor evitá-los. Mas e se mesmo assim “acontecer”, que a demagogia seja posta de lado e possamos olhar sem ilusões para dentro de nós para responder a pergunta: Eu realmente posso ter um filho?

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